Gosto muito de usar esse termo: "Surfar na onda do climatério e menopausa". A terapia hormonal, quando bem indicada, é uma importante aliada para o domínio dessa "onda" de alterações que acontecem no corpo e na vida da mulher, durante o período em que os ovários começam a falhar e encerram sua produção hormonal.
Muito se fala sobre os sintomas climatéricos, seja de forma pejorativa, seja de forma desconexa, mas frequentemente são referências muito pouco esclarecedoras. Chega-se ao ponto de associar qualquer alteração feminina, já a partir dos 35 anos, à menopausa. Entenda alguns conceitos básicos e como o processo acontece:
1- Menopausa é a última menstruação. Assim como a Menarca é a primeira, ela é apenas um marco que reflete a parada irreversível de funcionamento dos ovários. Você só saberá que é a última, após 12 meses sem qualquer sangramento. Ou seja, depois de um ano sem menstruar, qualquer sangramento precisa ser investigado e não deve ser considerado menstruação. Ela acontece normalmente entre os 45 e 55 anos.
2-Climatério é o período transição entre o final da vida reprodutiva (final do funcionamento dos ovários) e a senectude (envelhecimento) que, em geral acontece entre 40 e 60 anos.
3- Síndrome Climatérica é o conjunto de sintomas que refletem a redução da produção de hormônios pelos ovários. Esses sintomas interferem de forma variável na qualidade de vida das mulheres e também variam de acordo com o tempo e a fase do climatério.
Em linhas gerais, podemos dizer que as alterações e seus sintomas se apresentam de acordo com a fase desse processo de transição. Podemos listar aqui os mais evidentes, como:
- Alterações menstruais, em geral é o primeiro sintoma e pode começar com atrasos crescentes, seguidos de menstruações com sangramentos volumosos e/ou por longo período (mais de 7 dias) que podem levar a anemia, até que chegue menopausa;
- Ondas de calor (especialmente na fase dos atrasos menstruais), chamados Fogachos, porque chegam em flashes, independentemente da temperatura do ambiente, e se seguem de suor frio;
- Baixa qualidade de sono, geralmente associada aos fogachos noturnos, a mulher acorda na madrugada e não consegue dormir novamente;
- Fadiga, o cansaço inexplicado é decorrente tanto das noites mal dormidas, quanto de uma anemia promovida pela irregularidade menstrual;
- Perda do interesse sexual, mulher cansada não tem desejo sexual, tem dificuldade de excitação, com redução da lubrificação de excitação que se associa a dor na relação e só piora a perda do interesse sexual;
- Alterações metabólicas, as quais, além de favorecer o ganho de peso, ao longo do tempo, podem predispor o surgimento ou agravamento de doenças crônicas como obesidade, diabetes, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares, perda de massa óssea (osteoporose);
- Atrofia, esse processo se reflete em sintomas de uma fase mais tardia do climatério. Acontece na pós menopausa e envolve pele, massa muscular, atrofia urogenital, essa está associada a ressecamento e perda da elasticidade vaginal, o que piora consideravelmente as queixas sexuais e favorece infecções urinárias recorrentes.
Tudo isso, sem falar no turbilhão de emoções que comprometem a saúde mental das mulheres.
É no enfrentamento de todo esse processo, que pode ser experimentado em menor ou maior intensidade, que a terapia hormonal tem seu papel.
Como toda intervenção tem seus riscos, porém quando bem indicada e bem avaliados os riscos, a terapia hormonal precisa ser considerada como importante ferramenta, tanto no resgate à qualidade de vida da mulher, quanto na prevenção de doenças crônicas danosas à autonomia e bem estar da mulher idosa. Ou seja, sua indicação considera seus benefícios em curto e longo prazo.
Então, o que você precisa saber sobre a terapia hormonal, além dos seus benefícios?
1- A terapia hormonal, assim como a contracepção hormonal deve ser individualizada, de acordo com a fase do climatério, com a intensidade e tipo de sintomas e riscos, com o peso e atividade física da mulher, até com o seu perfil de adequação ao tipo de tomada e via de administração dos hormônios;
2- Assim como os hormônios naturais que o ovário deixou de produzir, os hormônios usados na terapia do climatério e menopausa têm efeitos proliferativos sobre a mama e o endométrio (parte do útero que menstrua), desse modo, não podem ser usados em mulheres portadoras ou que estejam em investigação de câncer de mama ou de útero;
3- Também como os hormônios que o ovário não produz mais, os hormônios da terapia, em especial o estrogênio, tem efeito trombogênico e por isso não devem ser usados em quem já tem riscos de trombo como hipertensas e diabéticas não controladas, obesas e fumantes;
4- São metabolizados pelo fígado e, para isso, é preciso ter um fígado saudável, sendo contraindicados em portadoras de hepatite aguda, doenças da vesícula biliar ativa, portadoras de câncer de fígado;
Como essas condições podem acontecer ao longo da vida, quem usa a terapia hormonal deve fazer acompanhamento regular e na ocorrência dessas situações a terapia deve ser interrompida.
E para aquelas que precisam e não podem usar a terapia hormonal?
A solução é reforçar os cuidados das condições que contraindicam a terapia hormonal, o rigor em manter os bons hábitos (alimentares, exercício, boas relações com as pessoas, trabalho e com a vida) e usar terapia alternativa para cada sintoma ou condição que comprometa o bem estar da mulher. Entre esses o mais usado é o cuidado com a atrofia urogenital, onde se usa regularmente creme vaginal com ação hormonal local. Outros são antidepressivos, fitoterápicos.
A tibolona, embora não seja um hormônio, tem ação como tal e segue todas as indicações e contraindicações da terapia hormonal.
Diante de tudo o que foi apresentado, a mensagem principal é: Essa fase da vida vem cheia de mudanças e enfrentamentos que podem ser cuidados. Procure ajuda para surfar essa onda, cuide-se, viva bem.
Fonte:
Experiência profissional e pessoal - lattes: http://lattes.cnpq.br/1901567546099303
SOBRAC. Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal na Menopausa. 2018. Disponível em: http://sobrac.org.br/consenso_brasileiro_de_th_da_menopausa_2018.html
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